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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Mawú - A deusa lua

Vódun Mawú

Mawú seria para os povos fóns a maior divindade do panteão. Seu poder é comparado ao do grande Deus Supremo Avievódun e em muitos lugares do antigo Dahomey, é o próprio. É a deusa da lua, e tendo como Lissá o deus sol.

Sabemos que nossa religião é formada por vários povos oriundos de distintos vilarejos na África, logo, existe uma distorção do culto, com informações e lendas que se contrariam. A nação Djedje por exemplo, é formada por descendentes do antigo Dahomey (atual República do Benim), e é composta por histórias contadas por ancestrais de todos os vilarejos que compõem esse país, tais como Allada, Abomey, etc. Por este motivo existe um excesso de cultura e uma eventual confusão relacionada a origem das divindades. Basicamente é como se pegasse o Brasil e transformasse em uma religião e misturasse todos os povos de todos os estados. O resultado seria frevo com funk, samba com forró, os mais variados sotaques e dialetos, e toda a história cultural de cada estado, tais como lendas, fé, devoção, etc. Certamente Mula sem cabeça, Saci, Iara, dentre outros se tornariam deuses e cada descendente de cada estado, contaria sua versão sobre a divindade em questão. Parece confuso, mas foi mais ou menos isso que aconteceu séculos atrás, com a vinda dos negros para o Brasil, escravizados pelos portugueses. Por este motivo, é meio contraditório falar dos deuses africanos, uma vez que no próprio Dahomey existe várias versões para a origem e domínio de seus deuses. 
Mawú por sua vez, em alguns vilarejos é cultuada como filha de Nànàn Gbúlúkú e em outros como mãe. A segunda versão da história é a que me parece mais plausível, então irei redigir assim neste texto. Dangbé, a grande serpente da vida, teria tido quatro filhos, que seriam os primeiros deuses que compunham o panteão Fón: Mawú, Lisá, Aido Wuedo e Dangballa. Mawú seria feminino, a deusa Lua; Lisá seria masculino, o deus Sol; Aido Wuedo seria o arco-íris, o Deus o frescor e Dangballa seria sua companheira, o seu reflexo nas águas. Mawú e Lisá eram muito unidos, sendo as vezes confundidos como uma única divindade, sendo visto desta forma em algumas aldeias que compõe o Dahomey. Mawú e Lisá deram origem a muitas divindades, dentre elas a grande Nànàn gbúlúkú ou Nae Igbayn, e outros deuses que fazem parte diretamente do nosso culto, tais como Gú, Agué, Azansu, Aikuguman, Sogbo, Vodun djó, Legba e Azili (Aziri). Lisá era muito quente e arredio, tendo muitos pensamentos contrários ao de Mawú. Mawú era uma deusa benevolente, calma e que, protegia os seres humanos, trazendo paz e harmonia para a terra. Lisá por sua vez, era muito autoritário, severo e adora punir aqueles que quebravam as regras impostas pelos deuses, castigando-os. Mawú chateada com seu companheiro, se retira da terra e foi residir na Lua. Lisá se sentiu só, e retirou-se também, porém foi morar no sol. Mawú e Lisá todos os dias apareceriam sobre a terra, iluminando o planeta e vigiando de longe seus filhos. Lisá, quente e austero, apareceria de dia, onde a maioria dos seres estão ativos, prestando atenção em tudo o que se passa na terra, e continuaria punindo aqueles que erravam. Mawú apareceria de noite, onde a maioria dos seres descansavam, e traria a paz, a harmonia e o perdão para os que erram. Os seres humanos sentiram falta de Mawú, e clamavam sua volta, pedindo que os ajudassem e que olhassem por eles. Por este motivo, é comum vermos frases ou orações que clamam à Mawú pelos seres da terra, pedindo auxílio, proteção, etc (Máwu mi nô que significa Deus nossa mãe é um termo usado pelos povos fóns que exemplificam essa devoção ao vodun Mawú). Quando os colonizadores chegaram a Dahomey e viram essa veneração pela deusa Mawu, acabaram por definir que a mesma seria a deusa ou deus supremo da região, partindo daí a confusão que compara Mawú ou as vezes Mawú-Lisá como a divindade maior dos povos fóns. 
Segundo as lendas, Mawú e Lisá de tempos e tempos, ainda se encontravam, formando o que é chamado de eclipse, e nesta ocasião matavam as saudades, faziam amor e davam origem a mais voduns. 
Mawú tinha como principal sacerdotisa Nànàn gbúlúkú, que deixou um legado de como sua mãe seria cultuada. Nànàn ou Nànà seria um título dado a toda sacerdotisa da deusa lua, formando um clã feminista, uma sociedade secreta. 
Mawú é o princípio feminino, a deusa do frescor, do perdão. Seria aquela que trás os sonhos para a humanidade. Senhora do descanso, da cura e da fé. Não seria iniciada, uma vez que ao contrário de Lisá, não voltou mais a terra. Muitos sacerdotes, motivados pelo sincretismo religioso e pela necessidade de existir uma comparação entre as divindades da nação djedje, ketu e angola, acabaram por confundir Mawú com Íyèmònjá, por uma ser a mãe de muitos voduns e a outra a mãe de muitos òrísás, passando então a inicia-la em suas casas. Para nós, estudiosos e historiadores, Mawú é um vodun supremo, não tendo como iniciá-la em um neófito, porém, existindo culto e certos fundamentos para tal divindade. 
Mawú sem dúvida é uma divindade de extrema importância, tendo regência sobre a fertilidade, a vida e toda a essência do sexo feminino. Seria ela a divindade da procriação, da gestação e da propagação da vida terrena. Para os mais antigos, a lua sempre foi uma potencial influenciadora nos assuntos terrenos, agindo sobre mulheres grávidas, determinando dias para os ègbós e obrigações, interferindo na maré, dentre outros fenômenos dependentes de ações lunares e que são comprovados cientificamente. Logo, assim como o Sol, a lua possui sua importância, seja cultural ou científica, e sempre foi um astro misterioso, que encantou os seres humanos desde quando foram criados. 


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