domingo, 1 de maio de 2016

Ètútù - O complemento do Ebó.



Um dos grandes presentes de Ifa encontra-se em sua habilidade de oferecer o remédio para toda a situação àqueles que estão dispostos a procurá-lo e a ouvirem aquilo que ele tem a dizer. Assim prescrever o Ebo é uma habilidade que deve ser cultivada e refinada, porque toda a arte requer do Ebo além da oferta que estamos dispostos a fazer, um comprometimento sincero com a oferenda para que possamos experimentar de forma sincera as transformações que irão ocorrer.
Muitas vezes presenciei em minha vida de sacerdote, pessoas desesperadas afirmarem que sua vida não tem mais solução. Melhor que reconhecer a responsabilidade pessoal que acompanha o Ebo, seria reconhecer as responsabilidades de nossas ações, pois muitas vezes agimos como que esperando que a repercussão dos meses, dos anos, ou mesmo das décadas de acumulo de energias negativas, possam ser milagrosamente transformados em um instante. E quando os resultados da vida se alteram e não são vistos imediatamente, o Ebo e freqüentemente a divinação são tachados como errôneos. Isto infelizmente e uma prática comum ao mundo moderno, uma espécie de fuga ou de relutância em relação às responsabilidades com nossa própria vida.
A mudança tem que ser vista como um processo interativo e requer que nossos compromissos pessoais estejam sempre em desenvolvimento, aliados sempre a uma boa postura e a um forte Iwa(caráter). A verdade é que o ètùtù promove mudanças de fato em nossa vida de uma maneira muito prática e tangível, injetando energia em nossa essência e no universo à nossa volta criando novas possibilidades, que precisam ser bem administradas para que profundas e verdadeiras mudanças possam ocorrer. Externar o desejo e o verdadeiro comprometimento com esta intenção é a maneira mais correta de promover essas transformações, este é um ponto simples e importante de recordar, pois cria a possibilidade de algo novo e diferente.
Porém e necessário compreender que a fim de conseguir retificar nosso destino, devemos usar nossos olhos para perceber as mudanças que o Ebo criou, e nossa determinação para agirmos em cima dela, caso contrário, se não agirmos para podermos colocar essas transformações em prática, continuaremos presos aos mesmos problemas, sem conseguir fazer com que nossas novas perspectivas interajam com o potencial de transformação criado pelo Ebo, caindo fatalmente em um período de estagnação criado simplesmente por falta de postura em relação a nossa própria vida.
Para aquelas que reconhecem a função verdadeira do ebo, as responsabilidades pessoais que vêm junto com ela realizam-se tão claramente quanto o dia. Compreender os benefícios do Ebo, experimentando assim a totalidade de nossos potenciais, assimilarem que a direção de nossos destinos repousa em nosso Orí e a primeira etapa para podermos explorar a totalidade de nossa capacidade, assim não apenas reivindicando e sim contribuindo para que possamos vivenciar a felicidade que temos por direito, assim como a paz e o próprio bem estar.
Enquanto observado para pessoas alheias ao seu potencial de transformação o Ebo é muitas vezes comparado a uma simples prescrição.
É necessário entendermos que cura e totalmente diferente de transformação, a cura e estabelecida após o mal já estar instalado, já a transformação além de explorar o potencial da cura busca também agir na origem do problema, procurando identificar o que gerou o mal.
Se nosso próprio medo, relutância, negação são a causa de eventos infelizes em nossas vidas, o Ebo explorando o seu poder de transformação e agindo no foco do problema torna-se eficaz impedindo que uma progressão negativa permita a instalação de males.
O verdadeiro processo de cura encontra-se na prevenção, isto requer esforço e foco contínuo na origem de nossos problemas.
O Ebo prescrito durante a divinação ajudará temporariamente ao indivíduo, porém volto a frisar que se não houver uma mudança de postura a mudança será apenas temporária, ou seja, não é o bastante oferecer uma vela para sairmos da escuridão; nós devemos abrir nossos olhos para perceber e mover-se ativamente até a luz.
É imperativo ao nosso crescimento que nós consigamos assimilar e agir dentro da energia explosiva que está sendo evocada ao realizarmos o Ebo, seguindo-a completamente.
Finalmente, somente o esforço de um indivíduo pode sustentar um resultado alterno e digno. Uma parte de minha própria viagem em Ifá foi destinada a poder observar e a assimilar o mundo natural ao meu redor, podendo assim compreender como as energias naturais interagem entre si e principalmente ao entender os seus conceitos compreender a necessidade de manipulá-las para a solução dos problemas chegando ao bem estar.
Nós podemos ver como o vento e as águas se movem através das gargantas e as fendas, encontrando penhascos e outros obstáculos, no entanto fazendo os ajustes necessários eles sempre alcançam seu destino.
Assim nós, como seres humanos, não devemos ver nosso próprio crescimento como impossível como algo miraculoso ou como algo além de nosso próprio poder, muitas vezes impedido por obstáculos imaginários, embora muitas vezes tivesse dificuldades em crer é fácil para todo o organismo evoluir e se aprimorar desde que realmente desejemos isso e ao invés de ficarmos aguardando, contribuirmos para que as transformações ocorram em nossa vida.
Os princípios básicos de Ebo operam dentro desta lei natural, e esta é talvez a coisa mais importante que meus Anciões me ensinaram.
É simples plantar uma semente, o difícil e fazê-la germinar, a divinação e o Ebo dão-nos as ferramentas para crescer, basta apenas percebermos como usá-las.
Ire o.
Por: Olúwo Ifágbèmí Odùyemí e cedido ao Instituto Awololá
Fonte: O Candomblé - Mundo dos Orixás.

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